As startups, o ESG e os investidores-anjos

As três letras da sigla ESG (Environmental, Social, Governance) representam um grande universo para empresas e startups desvendarem. O termo está relacionado às iniciativas e projetos que ajudam as empresas a reduzir os seus impactos no meio-ambiente, impactar positivamente a sociedade e melhorar suas práticas internas, evitando, por exemplo, fraudes e corrupção.

A força que o ESG ganhou nos últimos anos tem muito a ver com o mercado financeiro, porque os investidores passaram a exigir das empresas uma postura mais ativa diante dos desafios da sociedade. É um conceito que auxilia os investidores na hora de analisar as empresas na qual vão investir.

E as startups cumprem um papel importante nisso porque podem contribuir com o ecossistema ESG das grandes companhias oferecendo um serviço que as ajuda a cumprir suas metas.

“O mercado precisa responder aos stakeholders e reduzir os seus custos sociais e ambientais. E as startups são um caminho que pode encurtar essa jornada”, avalia Giuliano Marchiani, investidor-anjo e membro associado da Gávea Angels, onde lidera a vertical de ESG.

Uma startup como a Home Agent, que faz parte do ecossistema da Gávea Angels e oferece serviço de call center no modelo home office, pode ajudar uma companhia a contribuir com a empregabilidade de grupos como mulheres, mães e idosos, que se beneficiam bastante da facilidade de trabalhar de casa. É um modelo de negócios inovador que conversa com uma necessidade atual de prestar atendimento ao cliente, mas também cumprir metas que beneficiam toda a sociedade.

Já a Telite, outra startup do ecossistema Gávea Angels, fabrica telhas a partir de material reciclado e, assim, ajuda as empresas a cumprir a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A startup desenvolveu tecnologia e inteligência para recolher materiais recicláveis de pequenos e grandes geradores e usá-los como matéria-prima.

Em um mundo no qual a geração de lixo é um problema urgente e no qual as companhias precisam, por lei, dar um destino correto aos seus resíduos, ter uma solução de Logística Reversa só traz benefícios.

Essa capacidade de inovação e a agilidade característica das startups traz um frescor que as grandes empresas querem ter e que pode ajudá-las na missão de inovar e encontrar novos caminhos para velhos problemas, como gestão do lixo, consumo de água e energia.

Muitas vezes, é mais fácil encontrar uma saída a partir de uma solução de startup do que usando os funcionários da própria empresa. Por isso, muitas companhias desenvolvem programas de inovação aberta, inclusive voltados para temas ligados ao ESG. “A inovação é um elemento impulsionador da cultura ESG”, diz Giuliano.

Isso é importante porque estimula os empreendedores a pensar em negócios que solucionem os grandes problemas dessas empresas.

O relatório Inovação ESG, da consultoria Ace Cortex, mapeou 343 startups que desenvolvem soluções relacionadas ao ESG no Brasil. Desse número, 180 estão relacionadas às questões ambientais; 130 às questões sociais e 33 às questões de governança.

“A startup tem agilidade e uma energia fora do normal. Além disso, tem liquidez e geralmente está relacionada com ideias disruptivas. Ela apoia as grandes corporações a enxergar um outro lado da moeda”, avalia Giuliano.

O ESG das próprias startups

Outro motivo para as startups não perderem de vista o ESG é que elas mesmas serão cobradas pelos investidores e pelo mercado por modelos de negócios que sejam responsáveis. Por isso, além de colaborar com uma grande empresa, é preciso ter o ESG na sua própria estratégia.

“A startup tem uma estrutura muito pequena e um desafio muito grande de lidar com alguns dos problemas complexos da agenda do ESG. Então, cada startup tem que encontrar uma forma de ter a sua própria agenda ESG, de construir seu próprio legado, e contribuir para a solução de problemas do mundo”, diz Cecília Andreucci, investidora-anjo, conselheira-diretora da Gávea Angels e Lider do Comitê ESG da Guararapes Paineis.

Apesar da estrutura enxuta e muitas vezes da falta de capital, pode ser mais fácil para as startups já se lançarem no mercado usando a lente do ESG pelo fato de não carregarem um legado e já nascerem muito conectadas com as demandas atuais.

Uma startup pode, por exemplo, já nascer buscando diversidade e equidade de gênero em seu quadro de colaboradores. É um pilar importante e de grande impacto social. A Gávea Angels, inclusive, busca ter cada vez mais investidoras-anjo associadas e busca também startups que tenham mulheres como fundadoras e equidade de gênero no quadro de colaboradores.

E os investidores estão de olho nisso. “O que o mercado espera não é que as organizações sejam outstanding em todos os pilares, mas que demonstrem compromisso com a agenda ESG e evolução constante em todos os pilares”, explica Cecília Andreucci.

Apesar de ser apenas 3 letras, ESG é um universo estratégico e fundamental para todos os negócios: os grandes e os pequenos!

Por Maisa Infante – Redatora na Gávea Angels e colaboradora no Projeto Draft

Data publicação

03/09/2021

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